sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

ora-veja-só

Há tempos que estava querendo colocar o trechinho de um livro que eu li um pouco depois do Natal. O livro é a garota das laranjas. Nele, Georg Roed conseguiu tirar as palavras da minha cabeça e desabafar tudo por mim. Porque eu também faço parte da parcela da população que realmente compreendeu que nós moramos em um planeta da Via Láctea. E eu não entendo como as pessoas podem desconsiderar isso tão facilmente. Ao menos pensar um pouquinho que estamos num planeta que tem tantas formas de vida, coisa rara, e que lá fora, lá no espaço, tem tanta coisa linda e maluca. nebulosas, buracos-negros, galáxias, planetas e até outras vidas. Por isto, Georg falou assim:


eu tenho que dizer que adoro essa imagem do livro porque a garota das laranjas está olhando para algumas estrelinhas que me lembram as plêiades.

"Eu não tenho nada contra sombra, delineador ou lápis de sobrancelha. Mas acontece que estamos em um planeta no espaço sideral. E não existe idéia mais maluca do que essa! É uma loucura pensar que o espaço existe. Mas há garotas que, por causa da sombra e do delineador, não conseguem enxergar o espaço cósmico. E sem dúvida também há rapazes que, por conta do futebol, são incapazes de ver o horizonte. Em todo caso, há uma grande diferença entre um espelho de maquiagem e um bom telescópio. Deve ser isso que chamam de “deslocamento de perspectiva”'. Talvez também se pudesse falar numa “experiência do ora-veja-só”, da percepção repentina de um contexto qualquer. Nunca é tarde para uma experiência do ora-veja-só. Porém muita gente passa a vida inteira sem perceber que flutua no espaço vazio. Há tanta coisa aqui embaixo, isso só atrapalha. Já basta a gente se preocupar com a própria aparência.
Nós somos deste planeta. Longe de mim contestar isso. Somos parte da natureza deste planeta. Aqui aprendemos, com os macacos e os répteis, a nos reproduzir, e eu não tenho nada a opor. Em outra natureza, talvez fosse muito diferente, mas é aqui que nós estamos. E, repito, não tenho a menor intenção de questionar essas coisas. Só acho que elas não deviam nos impedir de enxergar um pouco além da ponta do nariz.

“Telescópio” significa mais ou menos “ver aquilo que está muito longe”. Mas por acaso a tal história da “garota das laranjas” tinha realmente alguma relação com o telescópio espacial?

O telescópio não foi enviado ao espaço para observar mais de perto as estrelas e os planetas. Isso seria tão absurdo quanto se colocar na ponta dos pés para ver melhor as crateras da Lua. No caso do telescópio espacial, trata-se de observar a partir de um ponto situado fora da atmosfera terrestre.
Muita gente pensa que está olhando para as estrelas no céu, mas não está. Essa impressão é criada pela instabilidade da atmosfera, é mais ou menos como a superfície agitada da água dando a impressão de que os seixos se confundem ou oscilam no fundo da lagoa. Ou, inversamente, do fundo de uma piscina, nem sempre a gente enxerga bem o que se move lá em cima, na beirada.
Não há nenhum telescópio na Terra que nos forneça imagens realmente nítidas do espaço cósmico. Disso só o Hubble Space Telescope é capaz.

O meu lado forte: Georg Roed faz parte da parcela da população que realmente compreendeu que nós moramos num planeta da Via Láctea."